segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Jardineiro e o vaso sem planta

Parte I

Inspirou pela primeira vez. Abriu os olhos. Estava escuro e ela se sentiu só. Estava frio e ela se sentiu com medo. Estava com medo e ela se sentiu fria. Apertou os olhos e conseguiu enxergar lá longe uma linha. Muito grande, muito comprida. Numa tonalidade marrom-alaranjada. Todo o resto era azul, quase negro. Não sabia porque, mas sentiu o ar se aquecer. Chegara alguém? Mas ela não conhecia ninguém. O que ela estava fazendo ali, afinal de contas? Por que tudo começara do nada tão de repente? A linha ao longe engrossou. Tornara-se mais espessa e amareladamente brilhante. Um ponto maior surgiu ao meio. E Ele chegou. "Talita, o Caminho é para você seguir." A menina pôs-se então a olhar para o chão e percebeu que a luminosidade cada vez maior tornara possível à estrada de ser vista. "Por quê eu? Por quê este nome? O que me aguarda nessa estrada? Quem é você? De onde você veio?", falava esbaforidamente, impressionada com a calma de quem a olhava como se olha um sonho que se concretiza, se é que ela conseguia imaginar isso... "Eu sou o Jardineiro, Talita. Sempre estive aqui. E você é minha menina." Talita, que agora aceitara o nome para si como se veste uma roupa feita sob medida, olhou o Jardineiro e tentou de alguma forma entender tudo aquilo. Só sabia que desde que o vira a paz parecia inundá-la. Ela o observava sedenta quando Ele começou a dizer: "Esta é sua planta. Siga o Sol de dia e a Lua de noite. Ande na luz sempre. Não tenha medo." A essa altura já se fazia claro o dia. Talita olhou para as mãos do Jardineiro e Ele segurava um vaso com terra. Ela pegou o vaso, olhou atentamente, cheirou a terra úmida de orvalho e perguntou: "Onde está a planta?" E como se o silêncio fosse alguém, ela levantou a fronte para olhá-lo. E o Jardineiro não podia mais ser visto. "Onde está você?" Para onde poderia ter ido o Jardineiro tão rapidamente? Teria deixado-a só para sempre? Estaria ela realmente só? Pelo menos era assim que via a si mesma. Uma menina só, com um vaso sem planta, e que fizera um Amigo que não podia mais se ver, e com o Caminho à sua frente iluminado pelo Sol...


E, é claro, com muitas perguntas...

(continua)

4 comentários:

  1. Que texto lindo Mila.. estou esperando os próximos capítulos!!! Não demore !kkk

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  2. Obrigada, Ricardo!

    É uma honra para uma simples plebeia como eu ouvir isso de um príncipe. rs

    Beijos

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  3. Poxa! Isso é lindo! E me fez lembrar uma história que escrevi e está pela metade em algum lugar. Mas é de um menino! Tenho que voltar a escrever... vc me inspira sempre , Mila! Obrigada! ;D

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  4. Volte a escrever, Adelita! Também preciso de suas inspirações! Beijos e obrigada pelo carinho.

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