Parte II
Ali estava Talita. Desolada, com medo, aparentemente só. Deu uma volta em torno de seu próprio eixo à procura do Jardineiro. Nada via além dos campos verdes e vivos que bailavam com a música do vento repartidos pelo caminho de terra seca à sua frente. Nem árvores podiam ver-se. Olhou para o vaso sem planta em suas mãos e revoltou-se. Por quê ela? Por que a levaram até ali? Por que não deixaram ninguém com ela? E por que, dentre tantas plantas em um jardim, ou flores, o Jardineiro dera a ela um vaso sem planta? Ele não a chamara de "sua menina"? Impelida pela raiva, atirou no chão o vaso que ganhara. Quebrou-se a borda de argila e a terra úmida se misturou à poeira seca do chão. E como se fosse tomada por um desespero dominador, correu. Correu e correu... e tudo corria em sua mente. Fechou os olhos e tentou pensar só no vento que lhe batia as faces. Não sabia porque, mas Talita sentiu doer o coração enquanto corria, como se ele fosse torcido como se torce um pano molhado. E as gotas resolveram sair pelos olhos fechados. Percebeu algo diferente, mas não quis abrir os olhos. Sentiu que perdera a direção da corrida. O coração ainda torcido, os olhos ainda fechados e molhados. Os pés se enroscaram em algo. Caiu. Só abriu os olhos durante a queda. Acho que quase todos são assim. E com o corpo amortecido pelos feixes em que os pés se enrolaram, chorou. E chorou sua alma para fora com a cabeça virada para o chão. E parou de chorar. Levantou-se. Enxugou os olhos com as mãos, arrumou os cabelos. Olhou para si e se consertou. Voltou para o Caminho. Olhou para cima, para onde o Sol já chegara. Apertou os olhos pela luz. Começou a andar na direção oposta à que correu. Andou, andou... de cabeça baixa a observar a poeira que subia de cada passo de seus pés. Chegou ao lugar de onde havia corrido e... surpreendeu-se. No lugar onde o vaso quebrara havia crescido uma árvore. Talita olhou para aquilo e não soube o que pensar. Aproximou-se. Entrou na área de sombra. Observou a copa com os pequenos resquícios de luz do Sol que por ela trespassavam. Foi descendo os olhos pelo tronco até a raiz até que... parou. E viu no chão, recostado à árvore, o seu vaso sem planta. Mas não estava mais caído, nem quebrado. Chegou perto, tomou o vaso nas mãos e o apertou junto de si. Era seu vaso, mas era um vaso novo. Era o único presente que recebera. Arrependeu-se de tê-lo atirado ao chão, era tudo que tinha, era sua vida. E não iria deixá-la novamente. E assentou-se debaixo da sombra, admirando seu novo velho vaso e, de alguma forma, apaixonara-se por ele. E sabia que deveria enfrentar o Caminho com aquele presente. Mas antes disso, adormeceu. Embora agora estivesse mais acordada que antes.
Ali estava Talita. Desolada, com medo, aparentemente só. Deu uma volta em torno de seu próprio eixo à procura do Jardineiro. Nada via além dos campos verdes e vivos que bailavam com a música do vento repartidos pelo caminho de terra seca à sua frente. Nem árvores podiam ver-se. Olhou para o vaso sem planta em suas mãos e revoltou-se. Por quê ela? Por que a levaram até ali? Por que não deixaram ninguém com ela? E por que, dentre tantas plantas em um jardim, ou flores, o Jardineiro dera a ela um vaso sem planta? Ele não a chamara de "sua menina"? Impelida pela raiva, atirou no chão o vaso que ganhara. Quebrou-se a borda de argila e a terra úmida se misturou à poeira seca do chão. E como se fosse tomada por um desespero dominador, correu. Correu e correu... e tudo corria em sua mente. Fechou os olhos e tentou pensar só no vento que lhe batia as faces. Não sabia porque, mas Talita sentiu doer o coração enquanto corria, como se ele fosse torcido como se torce um pano molhado. E as gotas resolveram sair pelos olhos fechados. Percebeu algo diferente, mas não quis abrir os olhos. Sentiu que perdera a direção da corrida. O coração ainda torcido, os olhos ainda fechados e molhados. Os pés se enroscaram em algo. Caiu. Só abriu os olhos durante a queda. Acho que quase todos são assim. E com o corpo amortecido pelos feixes em que os pés se enrolaram, chorou. E chorou sua alma para fora com a cabeça virada para o chão. E parou de chorar. Levantou-se. Enxugou os olhos com as mãos, arrumou os cabelos. Olhou para si e se consertou. Voltou para o Caminho. Olhou para cima, para onde o Sol já chegara. Apertou os olhos pela luz. Começou a andar na direção oposta à que correu. Andou, andou... de cabeça baixa a observar a poeira que subia de cada passo de seus pés. Chegou ao lugar de onde havia corrido e... surpreendeu-se. No lugar onde o vaso quebrara havia crescido uma árvore. Talita olhou para aquilo e não soube o que pensar. Aproximou-se. Entrou na área de sombra. Observou a copa com os pequenos resquícios de luz do Sol que por ela trespassavam. Foi descendo os olhos pelo tronco até a raiz até que... parou. E viu no chão, recostado à árvore, o seu vaso sem planta. Mas não estava mais caído, nem quebrado. Chegou perto, tomou o vaso nas mãos e o apertou junto de si. Era seu vaso, mas era um vaso novo. Era o único presente que recebera. Arrependeu-se de tê-lo atirado ao chão, era tudo que tinha, era sua vida. E não iria deixá-la novamente. E assentou-se debaixo da sombra, admirando seu novo velho vaso e, de alguma forma, apaixonara-se por ele. E sabia que deveria enfrentar o Caminho com aquele presente. Mas antes disso, adormeceu. Embora agora estivesse mais acordada que antes.
(continua)
"Só abriu os olhos durante a queda. Acho que quase todos são assim." E como isso é verdade! ;D
ResponderExcluirAh! Como fiquei feliz com seu comentário. Surtiu o efeito exato que eu esperava... Obrigada, Adelita! Você me estimula muito!
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