terça-feira, 26 de julho de 2011

História dos que amam

Um mundo escondido
Uma história a ser revelada
Entranhados comigo
Numa noite em que se via nada

Limitada a um local
Um lugar sem expectativa
Transportada para o que é universal
Foi pelo Grande Poeta escolhida

Ao que era noite abriu-se luz
O pecado ruiu-se na graça
Perdão enfim tornou-se palpável
Cena inaudita aos olhos azuis
Encontrou-se e já não disfarça
Há via para a vida ao rasgo do véu

Não há razão para tal
Eu simplesmente merecia
A dor sem sorte de um mortal
Que em seus pecados, estragos,
dores, rancores,
desejos e medos se esvaía.
Jamais imaginaria salvação descomunal!

Olhe agora pra menina
E veja nela a redenção
Muito pobre e perdida
Bem mais louca a cada passo
Mas Deus diz: eu quem faço!
Todo o esforço humano é vão

Vêem-se nela mil sorrisos
Alegrias desmedidas
Muitos dias coloridos
Há razão pra sua vida

Com amigos vem a festa
Lugares não imaginados
De muitas rotas, bela é esta
Cujo caminho fotografa
O advindo da divina graça
A menina e o Poeta amigo
Que agora caminham lado a lado.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Soneto para os amigos eternos


Essa é minha esperança
Amizade é pra sempre
Depois dessa distância
Vou rever toda essa gente

Porque ouvi a Vida dizer
A luz é amor e amizade
Todo o que nela viver
Viverá pela eternidade

Quem sabe andar na luz
Um dia não vai sentir dor
Vai ver e abraçar Jesus
E beijar os amigos do amor

Acalento-me nesta verdade
E assim consolo a saudade

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Chuva

Tudo pode começar de um dia bom.
Mas se for pra chover, chover de verdade, nem precisa tentar o guarda-chuva.
De qualquer jeito, vai se molhar.
Pode conseguir uma capa, pode procurar as marquises.
Pode andar com um secador na mão, pode perseguir o sol... não adianta.
As nuvens cinzas estão lá, cheias de uma indesejada água.
Água que pode acabar com os seus planos, pode molhar a sua roupa.
Pode bagunçar sua agenda e sua vida.
Ela pode finalizar em dois segundos toda sua produção para viver aquele dia.
E você não pode fazer nada.

...

Então quem disse que está no controle?
Se o ser humano perde as estribeiras por causa de uma substância inanimada.
E se ele faz, em um dia, um estrago a durar a vida inteira.
Não há nada novo nessa vida.
E mesmo que tente, nunca será perfeito por aqui.
Não se estresse. Agora que se molhou não adianta guarda-chuva.
Recolha-se à sua casa, admita que se molhou. Seque-se.
Todo mundo erra. E ainda vai errar.
Da próxima vez, tente brincar na chuva.

...

Eu preciso tentar de novo.
Hoje a chuva chegou para mim.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Para nós, a noite




Para muitos, é o frio, a escuridão, o desespero.
Para nós, é o frescor, as estrelas, a dança.
É bom encontrar o meu amado à noite, só Ele me vê.
As estrelas iluminam o nosso encontro e o vento nos faz bailar.
Mesmo se não puder enxergar nada, sei que ali está o meu Amado.
Sempre estará.
Para nós, a noite nunca será um lamento impossível de sorrir.
Para nós, a noite pode ser o mais belo encontro de luz.
Ao Poeta, com carinho.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um segundo feliz


É rápido. Curto. Logo será sorriso dela. Mas ele sabe a hora exata para fotografar o movimento dos cabelos de sol. Mandou o vento um pouco antes e desfocou o cenário em volta. Para ele, ela é o que mais importa. Ninguém sabe a história do casaquinho xadrez. Desde quando fora alinhavado, ele já sabia que nessa hora estaria aquecendo a sua menina. E a flor? Ela não se desprendeu de seu ramo à toa. Ele sabia que esta, especificamente, cujo nome só ele conhece, chamaria a atenção de sua amada. E, com carinho, a fez com um aroma único para agradá-la. Seu rosto? Belo demais para ser contemplado todo de uma vez. É melhor que seja apenas um relance, uma faceta dela. E seus lábios alvos o alegram com a lembrança da canção... canção que só ele ouve... a canção que é a vida de sua amada... canção que torna maravilhoso cada momento entre a menina e o Poeta. Se for apenas um segundo, será um segundo feliz.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Pai das luzes


É do Pai das luzes que vem
toda beleza do jardim onde se lavra o alecrim que alguém traz para mim.
É do Pai das luzes que vem
 toda poesia inspirada ao meio-dia de quem sente a maresia.
É do Pai das luzes que vem
toda dança de toda criança que mexe e nunca se cansa.
É do Pai das luzes que vem
todo riso que esquece um pouquinho o aviso do bom siso.
É do Pai das luzes que vem
toda única última música lúdica para gentes grandes.
É do Pai das luzes que vem
 toda coisa boa nessa vida e depois desta. 
"Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." Tiago 1:17

sábado, 2 de julho de 2011

Dor e melodia

O Mestre de música, em uma das suas belas composições, põe-se a pensar. Ele já escreveu toda a letra, toda a poesia. E já tem em sua mente linda e nova melodia. Agora é a escolha de qual instrumento a tocar.

O cravo, com jeito de flor... O Mestre entorta os saltadores.
A clarineta, clara como ela só... O Mestre torce a campana.
A harpa, arpejando acordes... O Mestre rompe as cordas.
O piano, suavizando sons... O Mestre quebra as teclas.
E tocou, tocou, tocou.
Mas nenhum dos instrumentos continuou a melodia debilitado.

E pensou. Escolheu. Decidiu.
Chamou o homem. Deu-lhe uma bela voz e um câncer.
E gostou. Porque o homem foi o único que conseguiu cantar em meio à dor.
E amou o homem, porque sempre o amara.
O Mestre da música é o Maestro do amor.
E a melodia aconteceu, como nunca aconteceria em meio à festa.
Porque é rara a beleza da canção do sofrimento.
E o Maestro a procura em nós.

Alguém quer cantar para Ele?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Céu nublado

Abre os olhos. Olha o teto. Diz "bom dia" em silêncio. Mexe os pés gelados para os aquecer. Pensa que tem que ficar. Sobe a coberta aos ombros e dobra as pernas. Fecha os olhos. Pensa que não vai conseguir dormir de novo. Abre os olhos. Senta na cama. Não se descobre, está frio. "É só aqui dentro", pensa. Quer ver o Sol. Descobre-se, o queixo bate. Pisa o chão frio. Levanta-se. Fica na ponta dos pés, diminui o gélido atrito. Vai à janela. Descortina. Olha o céu cinza. Toca o vidro. Encosta totalmente os pés no chão. Enche o peito de ar. Sopra com força. Abre, finalmente, a janela. Cerra os olhos por causa o vento. Fecha a janela rápido. Segue de volta ao leito. Deita. Cobre-se totalmente. Abre-se a porta. Entra a enfermeira. "Bom dia!", "Oi." Sorri.  A senhora de branco estranha as cortinas no canto das janelas. "Você levantou?". Silêncio. Descobre os pés da enferma. Toca-os. Os pés estão frios e arroxeados. "Por que você fez isso? Não brinque com a sorte, menina." E a menina pensa que não existe sorte. "Você não entenderia." Ignora a existência do outro ser humano ali presente. Só queria ver o Sol mais uma vez antes de ir. Porque não sabe se vai acordar de novo amanhã. Não pode perder as manhãs, é tudo que tem. Esperava o Sol, mas conforma-se ao cinza. Combina com a vida, pelo menos com a dela. Começam as dores. Derrama uma lágrima. Aperta as mãos no rosto. "De novo não!", pensa. Fecha-se a porta. Ela não viu a mulher sair. Tosse. Abaixa os olhos. "Por que você não me leva de uma vez?", pergunta. Olha a janela irritada. Lembra do cinza. Pensa na dor outra vez. Fecha os olhos. Deita de lado sem abri-los, como se isso ajudasse a aliviar os incômodos. Abre os olhos para procurar um livro da estante ao lado. Surpreende-se. Lembra-se da senhora. "Eu não vi que ela..." Esquece a dor. Admira o laranja, uma vida para os olhos acinzentados. Pega a flor. Cheira. Não discerne odor diferente, é a doença. Mas reflete. "Por que eu não vi isso?" Olha a janela cinza com o presente nas mãos. Arrepende-se. Fixa os olhos no céu nublado. Apalpa a flor. Fecha os olhos. "Desculpe-me, outra vez." Suspira e deixa rolar outra lágrima.
E finalmente lembra que o Sol está dentro dela.