domingo, 5 de maio de 2013

O Vestido e o Bebê

Na primeira vez que a vi, um dia apenas havia se passado desde sua chegada ao que chamamos de mundo. Frágil, foi forte o suficiente para quebrar barreiras que nem o tempo havia derrubado. Um amor tão imenso e desmedido coube em um ser que poderia ser escondido atrás de dois braços. Tudo que ela faz é bom, é lindo e contagia todos. Até as mais duras cervizes se dobram aos seus sorrisos.

Um dia, fomos como ela. As luzes e as cores poderiam nos entreter por horas. Não havia tempo e os grandes problemas a serem resolvidos certamente seriam amenizados com o leite materno. Tudo a fazer era descobrir. Pura e instintivamente descobrir.

Ela agora descobriu as mãos e os pés. Ela os olha e imagino que os experimente. O que ela ainda não descobriu foi o lado do mundo que a pode ferir. As frustrações que não passam com choro, as dores para as quais não há medicina, os sonhos que só acontecem depois de matar as sementes para surgirem em flores.

Mas em um momento, nós nos encontramos. Ela estava lá, sendo transportada por lugares com os quais está habituada: pessoas realizando sonhos, pessoas com planos felizes, pessoas celebrando o amor. Eu, por uma noite depois de dias de trabalho intenso dessa vida, recebi como um presente uma breve passagem por esse lugar.

Assim como ela experimenta as mãos, eu experimentei. Muito mais do que tecidos em harmonia, toda uma história estava exposta à luz. A cada tentativa, minha voz ecoava: sim, eu me entreguei a um amor sem medida. E a cada fracasso, confesso, a distância do sonho azul aumentava.

Mas o Poeta faz com que o que parece impossível e distante chegue às nossas mãos. Quando uma nuvem cinza ameaçava a vista do lugar de sonhos, o inimaginável aconteceu. Eu descobri que havia para mim o único, em que só eu me encaixaria, com todas as coisas lindas harmonizadas. E, para mim, o tempo parou.

Então, nos encontramos: ela e eu. O mundo, por um instante, foi perfeito. O tempo parou. Todos se renderam à nossa alegria e às nossas lágrimas. Os problemas ali não existiam.

Eu não sei se ela sorriu, se ela chorou. Mas serei eternamente grata a ela por ter aberto a mim as portas do seu mundo de sonhos para que eu realizasse um sonho de menina, e para que eu encontrasse exatamente o que desejava a me vestir para anunciar aos céus e à terra o que ela mostra com cada olhar: 

O grande amor da vida.

2 comentários:

  1. Adorei!...gostei muito do comeco quando vc fala "o que chamamos de mundo"...
    O Pablo Neruda falou que ele era aspirante a poeta e que nunca ninguém ia alcancar o apice da poesia, mas ele falou isso porque nao conhecia voce!...
    Te amo!

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