Ponto
do ônibus. Eu, sob o sol, tentando identificar os letreiros. Parque de tubos?
Não. Florestinha? Não. Macaé... não chega de jeito nenhum. Olho a hora. Ah, tem
tempo. Adiantei hoje. João Alexandre, música... celular! A gente conversa. Mãe,
já saí da loja sim. Sério? Segue reto, vocês vão me ver. Aceno. Entro no carro.
Surpresa boa! Já almocei, mas vou com
vocês. Tá, a gente passa na loja antes. A
gente conversa. É, o fim de semana foi assim. Pai, come tranquilo porque eu
tenho tempo. Mas a bebê tá linda demais, né? Também gostei da peça. Vamos então. Eu explico o caminho que o
ônibus faz. A gente pode perguntar, qualquer coisa. Falo com minha vó. Beijo,
tchau! Que bom que vocês estão me trazendo, a gente pode conversar no carro. A
gente conversa. Aqui é Parque de Tubos. Não, ainda tá longe do trabalho. Segue
o fluxo. A gente conversa. Vocês podem
ficar comigo um tempo, claro! Penso se eles vão conseguir parar o carro. Uma saudade. Isso, pega a direita e
retorna subindo à esquerda. Acho que é isso mesmo. Essa é a Cavaleiros, famosa.
Tão bom estar junto. O caminho tá
igual, mas com vocês, tudo muda. Sem
vocês... tudo muda. Continua, pai, sentido Centro. É isso mesmo. A gente
conversa. Adorei vir com vocês. Chegamos na praça, agora tá perto. Ali na
frente tem placa, viu? Rodoviária é à esquerda. Aqui. Pode parar se quiser. Vai
me levar lá? Tudo bem, tá pertinho. Direita e... chegamos! Sobe na calçada
rapidinho. Pai, também te amo.
Aperto de mão, sorriso. Obrigada por tudo. Bolsa, pasta, porta. Mãe, te amo também. Abraço, beijo.
Atravesso a rua. Eles continuam. Juntos,
os dois, como começaram. Eu fiquei. Trabalho, seguir a vida. Sala de professores, café. Nervosismo de primeira
aula. Tranquila, todo mundo aqui passou por isso. Obrigada, gente. Fichas,
livro, material. A colega terminou com o namorado ontem. Fica assim não. Pausa
pra mim. Vou para o jardim. Sento no banco de madeira. Lindo. Celular. Oi, amor... que saudade! A gente se vê
quinta-feira. Mensagem de texto. Você me
levou ao trabalho hoje como antes. Beijos. Enviar para... Pai. Fim da pausa. Volto para a sala
dos professores. Material. Tranquila, você vai se sai bem. Obrigada, gente.
Fichas de alunos. Pra qual sala eu vou? Nove? Obrigada. Que turma grande! Vamos
lá. Sorriso, postura, partilhar o que
aprendi. Fim da aula. Preencho os pontos. Sala de professores. Guardo o
material. Secretaria, fichas de alunos. Pontos. Boa noite, pessoal. Rua,
rodoviária. Esse é o Unamar? Mensagem de texto. Indo para casa. Mãe ligando. A
gente conversa. Fala com a sua irmã.
Saudade. Amo você. Cheguei. Meu irmão me
esperando no carro. Está tarde, não é muito seguro. Casa. Comida boa.
Risada gostosa. Todos se ajeitam. Toalha. Banho... não, mensagem de texto chegou. Leio. Choro. Dizem boa noite. Escondo o
rosto e respondo de voz limpa. Choro mais. Corro para o banheiro. Choro. Roupa,
água, sabonete e lágrimas. Toalha. Choro.
Espelho. Espelho da vida, música do meu pai. Choro mais. Disfarço o
barulho. Lavo o rosto. Saio, converso, sorrio. Fecho a porta do quarto. Choro.
E choro outra vez. Por quê, meu Deus, tem que ser assim? Porque
"Nada será como antes. A vida segue soberana. Quando precisar, estarei aqui, te amando como sempre.”.
Para meu querido pai, que revolucionou o meu dia (e a minha vida
inteira) com uma mensagem de três frases.